sábado, 3 de julho de 2010

“Por favor, poderia puxar a campainha, que eu tenho que descer?”


“Eu nem sequer lembrava dele! Mas sei que quando bati os olhos nele aquele dia no ônibus o reconheci de algum lugar. Ele sempre foi quieto, reservado, mas sempre conversou com a gente na escola. Não sei se consigo acreditar que isso aconteceu!”


Ele sempre foi metódico. Procurava sempre pegar o mesmo ônibus todas às manhas. Dava bom dia para o motorista. Ficava de pé perto da porta da saída. Quando se sentava, sempre oferecia seu lugar para alguém que entrava. Descia no terminal de ônibus e olhava para todos os lados antes de dar um passo sequer. Observava todos ao redor. Então, finalmente, dava o primeiro passo em direção à saída. Misturava-se no fluxo da multidão e seguia seu rumo até o trabalho. Quando chegava, abria o escritório, como sempre era o primeiro a chegar, acendia as luzes e abria as janelas. Ligava seu computador, tirava seu casaco e o dobrava sobre a mesa. Tomava um copo de água e então começava a trabalhar. Seu maior interesse naquele serviço era ficar em contato com as pessoas. Não porque gostava delas, mas porque elas o interessavam. O deixavam intrigado. Ele as observava por toda parte. A todo o momento.


Sempre era educado, quando precisava um pouco rude. Às vezes, até grosseiro. Seus olhos negros e perfurantes assustavam um pouco. Transmitiam um pouco de inquietação às pessoas.

“A verdade é que ninguém gosta de ser observado!”

O que me leva a escrever sobre essa pessoa é que um dia sentei do seu lado no ônibus e, no momento em que me levantei, ele falou:

“Por favor, poderia puxar a campainha, que eu tenho que descer?”

Eu puxei a campainha, ele sorriu agradecido e desviou o olhar. Andou um pouco cambaleante pelo corredor do ônibus até os fundos e esperou que a condução parasse. Então, finalmente desceu. Ele ficou parado, na calçada, olhando o ônibus partir. Foi quando meus olhos se cruzaram com o dele pela segunda vez. Ele os seguiu, juntamente com o ônibus que partia. Ao longe, pude sentir um sorriso disfarçado. Um calafrio amedrontado me assaltou.

Eu sempre quis ser uma jornalista. Sempre quis me meter na vida dos outros, investigar e ser intrometida, como uma garota de 13 anos. Mas acabei me deixando levar por meus pais e escolhi a psicologia. A verdade, é que não me saía nada bem no curso e estava pensando em abandonar. Então, foi aquele olhar e aquele sorriso que talvez me tenha feito mudar de idéia. Na verdade, não mudar de idéia, mas sim conciliar as duas coisas.

Esse foi mais ou menos o esboço que escrevi naquela noite quando cheguei em casa. Mais tarde fui mudando algumas coisas. Até por que as coisas foram mudando também.

CONTINUA...

OBS: esse texto é baseado em acontecimentos do dia a dia, e em nenhum acontecimento real ou específico, mas ele continua em breve!!

2 comentários:

Sandra disse...

Vou aguardar as cenas do próximo capítulo, pois a exemplo do que li até agora já posso dizer que vou seguir com toda certeza deste mundinho de meu Deus!!! Gostei muito, texto forte, impactante e intrigante...parabéns sobrinhoooo!!!

Beijocas s a tia San

Vanrogue disse...

Brigadu tia =D
Já tem mais coisa pra vir já :p
To esperando o teu texto agora!!

bjooo